Adolescência e felicidade vistas de um cérebro naturalmente imbecil.

Olhando pro que já foi... De onde tudo está agora... Às vezes eu chego a pensar que eu sempre fui uma adolescente. Que minha adolescência começou bem antes do esperado, talvez aos 8 anos como diria minha mãe, talvez aos 5 como diria... A Érica. Talvez aos 12, mais ou menos quando deveria começar, mesmo. De qualquer forma, eu não sei quando começou, mas quando eu olho pra crianças reais, de 6 anos, ou menos... Eu não lembro de mim mesma sendo daquele jeito. Lembro de mim mesma daquele tamanho e indo pra escolinha onde eu encontraria outras crianças, mas não lembro de mim mesma fazendo desenhos incompreensíveis ou sendo completamente inocente. Eu lembro de mim mesma falando e fazendo coisas que assustavam os amiguinhos. Lembro da primeira vez que eu fumei um cigarro "publicamente" e os amiguinhos ficaram chocados e me disseram que aquilo fazia mal. E naquele momento eu já me sentia fodida ao ponto de não ligar. E eu com certeza estava bem longe da minha adolescência.

Na verdade, que grande merda essa sensação. Ser adolescente é uma merda. Você tem que fazer coisas que você não quer fazer, beijar pessoas que você não quer beijar, beber coisas que não são gostosas, mas vão te deixar bêbada. E na verdade, você meio que tem que ficar bêbada. Ser adulto é que é legal, você faz o que você quiser e pode dizer pra todo mundo que sabe o que tá fazendo, porque você é o "dono do seu nariz". Mas, sinceramente... Eu não me vejo aproveitando isso. Eu já fiz todas as merdas que eu poderia fazer e dizer que sei o que tô fazendo, quando eu não sabia. Ou sabia, mas não ligava. Agora eu só tenho as coisas certas pra fazer, aquelas que um adulto tem que fazer, tipo arrumar um emprego e ganhar dinheiro, pagar contas e enfrentar filas. Encontrar o amor da sua vida - essa é a parte boa -, casar com aquela pessoa e ter uma vida que talvez não seja a que você achou que teria, mas pensando bem é bem mais do que voce achou que conseguiria. Por exemplo, pra mim... Sair dessa cidade é só o começo do que eu quero. Fazer faculdade definitivamente não está na minha lista de coisas que eu realmente quero fazer, mas pelo visto eu não tenho muita escolha nesse sentido. Então, vou fazer a faculdade que menos vai fazer diferença. Não pra mim, pra mim vai ser ótimo e eu vou me sentir realmente realizada tendo aquele diploma, acontece que... As coisas que eu vou realizar por ter aquele diploma, eu poderia realizar agora. Sem os cinco anos de esforço e estudo e trabalhos e correria numa cidade que eu não conheço. 

Mas quando eu era adolescente... Pra mim, a vida era mergulhar naquele mar de nicotina, menininhas confusas, roupas que indicassem automaticamente o tipo de música que eu achava que devia ouvir pra ser legalzona e brigar com a minha mãe. E a verdade é que eu achava que aquilo era ser feliz. Mas cara, ser feliz de verdade é chato pra caralho. Eu sou feliz de verdade agora e, não quero ser incompreendida: eu gosto pra caralho de ser feliz. Gosto de ter encontrado a namorada mais maravilhosa que eu poderia encontrar, estar trabalhando pra entrar numa faculdade que vai ser legal e que vai me ensinar um monte de coisa que eu quero aprender, não brigar mais com a minha mãe e não ter mais segredos com meu pai. Porra, eu gosto muito disso. Mas de uma perspectiva meio adolescente ainda, isso é chato. Não tem confrontos, nem coisas proibidas. Não tem dor de cabeça, nem ficar bêbada e morrer de ressaca no outro dia, porque eu já aprendi a beber. Não tem aquele frio na barriga cada vez que o telefone toca, porque meu pai já não tá mais nem aí se eu falto ou não da escola. Mais do que isso: a escola não vai ligar pra ele se eu faltar. Quando você pode fazer o que quiser, as coisas ficam meio chatas. Ou você faz tudo errado pra ter alguma emoção, ou você simplesmente vive feliz e calmo, pacificamente com tudo e todos, apenas seguindo o seu curso.

E sei lá... Eu sempre fui meio preguiçosa pra ir contra o que me impunham, por mais que eu quisesse parecer rebeldezinha. Agora eu me sinto idosa e ainda mais preguiçosa. 
Mas caralho, é bom demais estar cem por cento feliz com quem eu sou e onde eu estou. Eu só preciso parar de pensar. Ou não. Eu penso e encontro o lado ruim das coisas boas, sempre, mas isso não significa que eu vou ver aquelas coisas só pelo lado ruim. Pelo contrário, eu só... Me conscientizo de que há um lado ruim. Na verdade, eu não vejo nada de errado com isso. É bom racionalizar de vez em quando.

Mas eu juro... Eu tô feliz. Como eu nunca estive e como eu nunca achei que fosse ser. E tenho certeza que vou sentir muita coisa ainda, talvez só não as mesmas que eu estava acostumada a sentir. Em vez de sentir ressaca, vou sentir o cheiro do cabelo da minha mulher espalhado no travesseiro e entrando no meu olho. E o peso do braço dela me apertando contra o corpo que eu mais amo no mundo. É tudo que eu poderia querer. Tudo.